ESTADÃO/ECONOMIA Tebet: Plano de ajuste é ‘insuficiente’, mas faz ‘combo’ com reforma tributária e nova regra fiscal

Em entrevista ao Estadão, ministra do Planejamento critica formato atual do Orçamento: ‘Elefante lento e pesadão’

Fonte Estadão

BRASÍLIA – A ministra do Planejamento e OrçamentoSimone Tebet, diz que o plano de ajuste de fiscal anunciado na semana passada é a “cara” de onde o governo Lula quer chegar para reverter o rombo das contas públicas. Ao Estadão, Tebet admite que o plano é insuficiente e que mais “alguns” terão de ser anunciados. Ela explica, porém, que as primeiras medidas fazem parte de um “combo” junto com a criação de uma nova regra fiscal e a aprovação da reforma tributária.

“É o ano de votar a reforma tributária. Ou é agora ou é nunca”, diz ela, que antecipa que trabalhará “nas horas vagas e depois do expediente” no Congresso para aprovar a reforma no sistema tributário junto com o ministro da FazendaFernando Haddad, a quem chama de “ministro-chefe” da equipe econômica.

Tebet diz que um déficit de 2% do PIB é “inconcebível” e que o grande recado do início do governo Lula foi justamente mostrar a preocupação em reverter esse quadro. Ele antecipa que a prioridade é reconstruir o planejamento e orçamento no médio prazo. Hoje, afirma, o quadro orçamentário é de elefante “lento e pesadão”. Ela reconhece, porém, que sua atuação na revisão de gastos tem um “limite”: a agenda política de Lula. “Dentro desses limites, nós vamos fazer o que é possível”, diz ela, que defende um novo arcabouço fiscal com uma regra de controle de gastos.

Como Haddad, a ministra também criticou o juro alto no Brasil, que ela classifica de “impraticável” e que impede o País de crescer e gerar emprego. Tebet diz que uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar os atos golpistas, se aberta, não atrapalhará o avanço da agenda econômica.

 

 

No anúncio da sua equipe, a sra. falou que é preciso gastar bem com o pouco que se tem. Como fazer isso?

Esse é o maior desafio. O Brasil gasta muito e gasta mal. E, por isso, a gente tem hoje um elefante lento e pesadão. A gente vai ter que ter agilidade, eficiência e eficácia. Esse é o grande desafio. O cobertor que já era curto ficou mais curto ainda com a pandemia e a má condução dela, o que aumentou obviamente o número de pessoas que precisam do orçamento público. Eu acho que o primeiro passo é reconstruir o planejamento e o orçamento sob novas bases. Entender que nós vamos ter que tratar o planejamento e o orçamento como se fosse corda e caçamba. É fundamental a gente repensar o orçamento no Brasil. O planejamento nem se fala, mas vamos começar com o orçamento. O Paulo Bijos já tem uma missão de colocar no Orçamento, na modernização desse processo orçamentário, dois grandes objetivos: primeiro, pensar o orçamento não só como algo anual. Deixar essa visão curta de sempre estar alocando recursos de acordo com emergência e necessidade para uma visão um pouco mais ampla, o que significa que ele vai trabalhar de forma articulada com o PPA e, consequentemente, com a secretaria de planejamento. Este é um ponto. Ele tem absoluta convergência em relação a isso e já está trabalhando, conversando com a equipe sobre isso. Resolver o problema da miopia orçamentária de forma objetiva. O segundo, repensar o orçamento a médio prazo. Por mais que nós estejamos falando de uma LOA, que é anual, ela está inserida efetivamente no PPA. Ou a gente pensa em extinguir o PPA enquanto arcabouço legal ou a gente fortalece o PPA como essencial numa visão de política pública. Eu prefiro essa segunda opção. Até porque nós não podemos contar com o Congresso Nacional como sabemos qual é o posicionamento político deles. Então, se temos um PPA, ele tem que funcionar, e, pra ele funcionar, eu preciso que o Orçamento, especialmente a SOF, dê a devida importância a ele. PPA inclusive que nós temos que fazer esse ano.

O segundo ponto está antenado com a outra secretaria que foi criada, que é a cereja do bolo do Ministério do Planejamento, que é a Secretaria de Avaliação e Monitoramento de Políticas Públicas. Essa revisão periódica do que está dando certo, de rever gastos… nós estamos entrando em rota de colisão. É um plano de voo com aeronaves de tamanhos distintos e, como eu disse no meu discurso, de modelos distintos. Não podem ser tratados de forma igual. Cada ministério tem sua prioridade. Então, no plano de voo, não pode estar um indo num sentido e outro indo em outro. Ou ao mesmo tempo duas aeronaves indo pra mesma direção. Ou você tem áreas com mais recursos e outras descobertas ou você tem rota de colisão. Então, tudo isso passa pelo spending review, revisão de gastos, o que está dando certo, o que não está. Então, acho que esse é o papel, esse é o principal: a necessidade de reconstruir planejamento e orçamento dentro de um trabalho coletivo e conjunto. Essa foi a primeira determinação na primeira reunião que tive com os secretários.

Onde o governo gasta pior e quais políticas e programas vão entrar na mira primeiro? Não teme comprar briga com a Esplanada inteira?

A minha surpresa é que não. A minha surpresa é encontrar no ministro Haddad um parceiro para essa questão. Na nossa primeira reunião, a primeira coisa que ele fez foi elogiar o fato de que o ministério tem essa secretaria de avaliação. Ele chegou até a dar detalhes, fez altos elogios a Sergio Firpo, que a gente convidou como professor do Insper, uma pessoa experiente que vem inclusive trabalhando nisso há anos, com estudos, ajudando inclusive o Tribunal de Contas da União.. e ele mesmo fez algumas sugestões que eu não posso adiantar aqui. É num momento de crise que a gente tem a oportunidade de fazer o que precisa ser feito. Então, de forma objetiva, essa é a máxima que a gente vai repetir sempre. É insustentável um déficit de mais de 2% do PIB – palavras do próprio ministro Haddad que convergem comigo. Com isso, nós temos um juro impraticável de 13,75% ao ano que impede o Brasil de crescer. Não gera emprego nem renda, palavras do Haddad. Diante do diagnóstico ser o mesmo e também de já num primeiro momento, a mesma saída, que é o spending review, o que vai incluir primeiro ou segundo é uma questão que nós vamos estar discutindo no tempo certo. Agora, eu ouvi também dele algo que eu venho falando há muito tempo, que é a questão dos gastos tributários. Desde a época que eu estou como senadora a gente tem tratado disso. A gente aprovou duas PECs, eu era presidente da CCJ, colocando prazos e metas para diminuir porcentual do PIB em relação a gastos tributários. Não tem como não rever os gastos tributários à exceção daquilo que vem de ordem e de determinação da agenda política do presidente. Ele fala em não incluir Zona Franca de Manaus, algumas coisas…

Mas aí o espaço dos gastos tributários fica muito pequeno…

Eu concordo que há essa dificuldade. Só o Simples ocupa 25% dos gastos tributários. Eu sei essa tabela quase de cor em função do tanto que eu trabalhei nela como senadora. Mas ela não vem sozinha. Você vem com uma reforma tributária aí que inclusive vai abarcar a questão que vinha nesse primeiro programa de reestruturação fiscal e não veio que é a questão do IPI. Então, é um conjunto de situações. Quando a gente fala em qutemos. alidade dos gastos e rever gastos dentro desse planejamento global, é o que gastar, como gastar e o que cortar. Eu acho que são as três perguntas. Isso vem num pacote, de acordo com decisões e dentro dos limites que nós temos. Nós temos um limite que é uma agenda política do presidente Lula, um compromisso de pograma que tem que caber. O pobre tem que estar no Orçamento mas não só o pobre: as mulhere, os negros, as pessoas co deficiência. Então dentro dessa estrutura toda e dentro desses limites nós vamos fazer o que é possível. Mas, repito: a decisão política não é do ministério. O principal foco do ministério é em relação às despesas, por mais que a gente também avalie receitas. Mas, o ministério da Fazenda tem esse propósito. Dentro das despesas, nós vamos dizer o que pode e o que não pode à luz da legislação. Paralelamente a isso, nós vamos, com base na secretaria do Planejamento e na avaliação periódica de desempenho, estar dizendo para o núcleo político do governo: olha, esses gastos são desnecessários, ou eles estão superpostos, ou há irregularidade, ilegalidade – esse é o nosso papel. Aí, quando a gente fala do Ministério do Planejamento e Orçamento neste ano de 2023, além do PPA, que vai ser uma grande missão, nós temos que falar que é o ano de votar a reforma tributária. É o ano. Ou é agora ou é nunca. Isso se arrasta há 30 anos, por tempo demais. Nós temos uma reforma bem avançada no Senado.

 

Essa revisão de gastos sempre foi muito anunciada e também se criou um conselho para análise, efetivamente garantiu economia, até mesmo pela resistência do Congresso em acabar com os benefícios. Por que agora vai ser diferente?

Nós temos várias saídas para um problema e não vai ser uma única saída que vai resolver o problema em definitivo, mas sim um conjunto de medidas. Por exemplo: o programa de reestruturação fiscal olhou muito mais pela receita do que pela despesa, é muito mais do que no quantitativo; no qualitativo, é uma sinalização de que o governo do presidente Lula está preocupado com a questão fiscal. O grande recado do início do governo do mês de janeiro é esse: nós estamos preocupados com o déficit fiscal, 2% do PIB de déficit é inconcebível. Isso gera incerteza de que o Brasil possa honrar seus compromissos, isso impacta no juro, que leva ao aumento da miséria e da pobreza pela falta de crescimento e de geração de emprego e renda. Isso é consenso, essa base. Isso me dá conforto para apresentar o melhor pacote possível. Se ele vai ser 100% exequível, 50% ou 30%, isso vai depender de convencimento do núcleo político do governo. Nós estamos começando. E eu repito: eu to começando otimista por quê? A crise é tamanha e o consenso, o ponto de partida é o mesmo, isso me dá a crença de que nós vamos atacar por diversas frentes uma reforma tributária que pode não ser a ideal, mas tem chance de passar – e qualquer coisa é melhor do que está hoje –, e a reforma tributária que está lá está muito boa, ela pode não ser ótima, mas é boa. Hoje, ela é a 110 com algumas coisas da 45 incorporadas. Mas eu estou falando do IVA adual mesmo. Eu não sei se vai começar pela Câmara ou pelo Senado, essa é uma decisão política e que cabe ao ministro da Fazenda como articulador.

A sra. apresentou resistências em alguns pontos da reforma.

Esses pontos foram sanados. Acho que era alguma coisa em relação ao prazo, eu estava muito preocupada em relação ao prazo dos incentivos fiscais, mas isso foi sanado. foi dado um prazo para quem já tem. Quem já tem, vai ser garantido pelos próximos 20 anos, porque não é o ponto central da reforma, inclusive. O ponto central da reforma é você diminuir imposto no consumo, que atinge os mais pobres. E eles vão ter um retorno, quem tem Bolsa Família vai ter um retorno na conta do cartãozinho dele do imposto que ele paga sobre a cesta básica.

Há uma preocupação do setor produtivo de que a reforma tributária venha com aumento da carga tributária. Como a sra. responde a isso?

Eu não sei qual reforma tributária vai ser aprovada, mas a que está ali, eu não consigo enxergar aumento da carga tributária. Alguns falam que pode ser que o setor de serviços seja mais impactado, mas o que me parece é que vai ter uma certa neutralidade tributária. Não estou falando por setores, mas no geral. É o que me cabe como ministra do Planejamento. Eu não vou entrar em detalhes nessa decisão política, o que entra e o que sai. Mas, em geral, a reforma tributária prima pela justiça tributária. Ela simplifica, desburocratiza e tem neutralidade no que se refere à arrecadação. No geral, é isso que eu vi no primeiro arcabouço dela.

A sra. teve menos tempo para formar a sua equipe, por ter sido anunciada depois de outros ministros da área econômica. A sra. participou da elaboração desse pacote fiscal anunciado pelo ministro Haddad na semana passada?

Na área da despesa, sim, que é uma primeira de algumas que depois virão. O meu ministério, MDIC e Ministério da Gestão ainda não existem. Os nossos ministérios surgem oficialmente a partir do dia 24, portanto, segunda-feira. A gente está ainda nessa divisão interna, mas estamos trabalhando. O foco agora são os meus secretários, que estão escolhendo os seus diretores. Não tenho ainda nem jurídico. Eu fui a jurista dos decretos da minha secretaria, mas fui chamada, demos pitaco, fizemos sugestões, fizemos pequenas alterações no quatro decretos que assinei e na portaria, na parte de despesas. O grande feito do anuncio do programa foi mais qualitativo do que quantitativo. A sinalização de que o Ministério da Fzenda e do Planejamento tem convergência na preocupação de zerar o déficit. Numa análise 100% otimista, zeramos o déficit nesse programa; numa análise menos otimista, teremos de apresentar novos programas esse ano porque não conseguiremos zerar o déficit com o programa que foi apresentado. Um segundo ponto que eu acho que é importante sob a ótica da despesa é que nós temos dois pontos de inovação. Esse conselho novo de acompanhamento de risco fiscal e judicial é tudo de bom. Ele aprimora governança. Nós vamos dar suporte para a União ganhar as causas legítimas que impactam em bilhões o orçamento público. Nós vamos montar estratégia, nós vamos articular, nós vamos fazer lobby legítimo no Supremo e no Superior Tribunal em relação aos alertas do impacto de uma decisão na vida do contribuinte. Sobre a revisão de contratos: estamos falando de reavaliar contratos de um governo desfuncional, que foi o de Bolsonaro. A gente excluiu o Ministério da Saúde apenas para não paralisar a compra de vacinas, medicamentos, etc, mas pode estar ali, por conta da CPI da Covid nós vimos, grandes valores ou contratos que poderão ser revistos. Não significa que o ministério não deve ou não pode rever, se encontrar alguma irregularidade. O ministério não vai estar obrigado a entregar o relatório em 0 dias. E temos também os restos a pagar de um governo desfuncional. Os gestores e os ministros têm três alternativas: ou eles desbloqueiam – é um direito que eles têm, vendo que está tudo certo –, ou eles mantêm o bloqueio para uma análise melhor e solicitam cancelamento. Isso tudo vamos estar acompanhando passo a passo.

Investidores avaliam que a portaria é abrangente e pode deixar margem para decisões unilaterais e até revisão de concessões. Isso pode acontecer?

Não. Tanto que a gente colocou nos termos da lei. Você tem a lei de licitação e contratos que impede, você tem o equilíbrio econômico-financeiro do contrato… você vai entrar em negociação quando você acha que tem sobrepreço, superfaturamento… Nós estamos falando basicamente dos contratos de custeio, os corriqueiros. Nem poderíamos por portaria entrar nessas questões. São os contratos corriqueiros, são milhares de contratos com fornecedores. Tem algum indício de ilegalidade, de preços excessivos? É disso que estamos tratando.

O pacote prevê uma redução de R$ 25 bilhões de despesas do orçamento com revisão de contratos, o que significa um quarto das despesas não obrigatórias. Não é otimista demais?

Os valores o Ministério do Planejamento não avaliou ainda. Os valores não vieram na nossa pasta. Houve uma estimativa. Por exemplo: os restos a pagar, de estimativa, nçao sei se veio da Receita ou do Ministério da Fazenda, é de R$ 100 bilhões. Não é que vai cortar. Tem R$ 100 bilhões de restos a pagar. Se vai cortar 10%, 15%, 20%, se tem margem para isso, o tempo vai dizer. Como eu falei: se o programa não tiver otimista demais, o próprio ministro Haddad falou: nós entramos com outros programas além desse. E não está incluído aí o próprio impacto a médio prazo e que pode começar já a partir desse ano de medidas que vão começar a entrar no Congresso Nacional. Não me pergunte quis são, eu não conversei com o ministro Haddad sobre isso. Já vou antecipar que nenhuma ideia nova que surja do ministério do Planejamento, ou que tome conhecimento que é do Ministério da Fazenda, e vou adiantar. Isso é atribuição do ministro-chefe da equipe econômica, que eu tenho consciência que é o Haddad.

A sra. quer evitar polêmica porque está todo mundo de olho na relação de vocês dois?

É cada um dentro da sua caixinha. A partir do momento que eu apresentar uma ideia do Planejamento, eu falo por ela. Agora, o que envolve a Fazenda, Receita, Carf etc. só quando for apresentado por ele (Haddad) que eu posso complementar, sugerir, ajudar a defender, discutir, debater.

Não teme fogo amigo? Tem muito em Brasília.

Por enquanto, não tenho o que reclamar. O ministério do Planejamento está em todos os órgãos. Estamos discutindo os conselhos (participação). Temos uma secretária de assuntos internacionais que vai ter um papel decisivo. Temos pela primeira vez um brasileiro na presidência do BID (Ilan Goldfajn). São recursos que vão vir para investimentos nos Estados e municípios. Vai diminuir a despesa da União. Se o eles estão contemplados, eles vêm com menos demanda para o governo federal. Termos assento na Camex. Vamos ajudar na formulação de política de comércio exterior. Nesses novos decretos e portarias que estão vindo, o Planejamento vai estar em todas as áreas estratégicas dos outros ministérios econômicos. Por enquanto, se tiver fogo amigo, não estou sabendo.

Já teve um mal-estar no PT por conta do convite para ir ao evento organizado pelo ex-governador João Doria?

Eu nem confirmei. Isso é tão pequeno perto de um processo. Adversário por adversário, se fosse olhar por esse lado, eu sou muito mais adversário do Dória do que o Lula porque eu disputei com ele para ser candidata. Se fosse, tá. Porque eu sou muito amiga do João Dória. Não teve estresse. Foram quatro ministros convidados, mas há uma preocupação depois de domingo de que evitássemos sair nesse primeiro momento. Eu passei para o Dória. A Casa Civil me deu o aval, mas acho que nenhum ministro vai viajar nesses próximos 45 dias. A não ser os casos como Davos.

O presidente Lula já sinalizou que quer a volta de programas que foram bandeiras dele, como o PAC, Minha Casa Minha Vida e outros que receberam críticas pela má-formulação e estão. Como o Planejamento e a nova secretaria de avaliação de políticas públicas vão contribuir para aperfeiçoar os programas?

O Planejamento é um ministério meio. Nós vamos procurar dar o suporte na horizontalidade, a visão geral que nós temos. A decisão de mérito, específica, é dos ministérios fins. Por exemplo, eu fui no grupo de transição e conheço bem do cadastro único do Bolsa Família. O CadÚnico é a alma de todos os programas sociais. Ele tem que ser remodelado. Vamos estar à disposição do ministro Wellington Dias para colocar o planejamento, a questão orçamentária e o Sérgio Firpo da avaliação e monitoramento. Já conversamos, eles se colocam prontos para nos receber. Nós temos gente da nossa equipe. Vamos trazer gente que trabalhou lá atrás quando eles eram muito eficientes. O Minha Casa Minha Vida da mesma forma.

E o pente-fino no Cadastro Único e Bolsa Família? Será adiado?

Foi uma sugestão nossa. Eu estava no grupo de transição. Não tinha jeito. Não adianta. Eu já fui prefeita. Vai formar fila e não vai resolver. Nós adiamos por 60 dias o bloqueio porque ao bloquear todo mundo corre para fila da assistência social para pedir o desbloqueio. Vai ter que ser um bloqueio em 60 dias e não pode começar em janeiro. Ao invés de janeiro, vai começar em fevereiro ou março e não vai ser por 30 dias. Serão 60 dias. Bloqueia-se. Quem se sente prejudicado, vai um cartãozinho, e farão a averiguação se se enquadra ou não. O mais importante é repensar o modelo porque a família unipessoal cresceu de tal forma que gerou uma série de irregularidades. Vamos ter provavelmente, não digo economia, não se pode falar em economia quando se fala em fome. Mas teremos cancelamentos significativos no número de famílias unipessoais ganhando o Bolsa Família.

Qual a perspectiva para a programação orçamentária em 2023? Qual a cara que o primeiro decreto orçamentário terá, sobretudo o empenho?

Não conversei com a equipe, especialmente com o Paulo Bijos, se é no primeiro, segundo, terceiro, quando essa cara vai aparecer. Mas as regras básicas são: transparência absoluta, procurar ser o mais eficientes possíveis nos gastos. Sabemos da importância de recuperar e garantir a confiança do setor privado, dos investidores. A cara é segurança jurídica em cada ato, segurança socioambiental e previsibilidade. Essa é a regra para se fazer tudo. Qualquer coisa que exceda gasto, que exija remanejamento, que fuja do orçamento planejado, estaremos falando o máximo possível com a Casa Civil, Fazenda, com a parte política e com o presidente Lula. Fazendo as ponderações necessárias.

Como senadora, a sra. sempre foi um crítica ao orçamento secreto. Ele acabou, mas a herança dele acabou indo para outros tipos de emenda mantendo a maior parte dos problemas, como as emendas “PIX” que não têm os destinos divulgados. Como o governo vai se organizar na execução desse espólio maldito do Orçamento secreto?

Primeiro, o orçamento secreto deixa de ser secreto. Eu tinha crítica porque ele era inconstitucional, não era transparente – o cidadão tem que saber para onde vai cada centavo do imposto dele. Ele era desigual, colocava parlamentares em hierarquia de primeiro, segundo e terceiro escalão, a depender de quem entregava a fatura, quem votava com A ou B. E o que tão ou mais grave: ao ser secreto, dava margem a toda margem a toda sorte de corrupção. Nesses aspectos, ele deixa de existir e é um ganho para a sociedade. O único senão que eu ainda faço, porque foi uma decisão política, e eu não envolvo mais porque a partir de fevereiro não serei mais senadora, é em relação às emendas PIX. Vamos ser rigorosos no controle austero de cada centavo que tiver saído. A Secretaria de Orçamento Federal é muito cara crachá. Ali, não cabe juízo de valor político. Cabe cumprir a lei de finanças públicas, LOA, LDO etc… É cumprimento das regras. Havendo indício de irregularidade, é óbvio que sabemos o que fazer. Tem inclusive o controle interno dentro do nosso ministério. Estou 100% satisfeita como ficou? Não. Mas ficou infinitamente melhor.

Como uma ministra política e filha de político, pode trazer que tipo de contribuição para as negociações? A possibilidade de instalação de um CPI para investigar os atos golpistas pode atrapalhar a agenda econômica no Congresso?

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Não. A CPI é um dos instrumentos mais radicais, mas muito importante de controle do Legislativo. Tendo o número de assinaturas e fato determinado, tem que se abrir. Sem qualquer outro juízo de valor. É a legitimidade de quem saiu vencedor nas urnas, que ao assinar o documento, diz que há fato determinado para se apurar. Não vejo impacto disso na economia no primeiro momento. A minha experiência política, e eu conversei com Haddad e ele me pediu, é poder estar junto com o Congresso aprovando as Medidas Provisórias, as leis relacionadas à equipe economia. Se eu puder nas horas vagas e depois do expediente, para aprovar reforma tributária, eu vou fazer. É a mais importante. Eu comecei a acompanhar a reforma tributária quando eu comecei a dar aula. Há 32 anos eu acompanho a reforma tributária. O que o governo precisar de mim nessa questão. É a mãe de todas as reformas

Qual será a participação do Ministério na definição do novo arcabouço fiscal para substituir teto de gastos. O balanço do pacote foi positivo com a sinalização de que a equipe econômica está comprometida com ajuste, mas há uma avaliação que não é suficiente para garantir uma trajetória sustentável da dívida pública. A senhora defende um arcabouço com uma regra de controle de gastos?

Sim. A sustentabilidade da dívida pública vai depender de três questões para recuperar a confiança. Primeiro: Esse programa de reestruturação fiscal não é o primeiro (não é o único). É o primeiro de alguns que poderão vir se não conseguirmos só com ele zerar o déficit. Segundo: Haddad já sinalizou de mandar ainda nesse primeiro semestre a nova regra fiscal. Terceiro é a reforma tributária. É um combo. Repito o programa de restruturação foi para dar a cara de onde a nova equipe econômica quer chegar. Esse programa de reestruturação, está muito claro para mim nesse sentido, ele é insuficiente e o ministro da economia (Fazenda) sabe disso e ele tem que vir com a reforma tributária e nova regra fiscal. É isso que eu espero para esse ano. É nisso que vamos trabalhar e é nisso que temos convergência.

O governo conta com a reoneração de combustíveis, mas ainda está em aberto. Qual o risco de não fazer?

Em relação à reoneração, o próprio Haddad não colocou na conta da programação porque esse é uma decisão política.

Mas, ministra ele colocou na planilha um aumento de arrecadação de R$ 29 bilhões?

De qualquer forma é uma decisão política que vai ser feita em relação à gasolina. Eu vou estar ao lado do ministro da Fazenda mostrando que não dá para tratar de forma igualitária biocombustível e diesel com gasolina. É um combustível fóssil e tem toda a questão não só econômica e tem a questão sócio-ambiental.

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A sra foi cobrada por ter uma equipe com representativa de raça, mas ainda anunciou nenhum dirigente preto.

A Vilma Pinto não aceitou, acho que o Michel França não vai aceitar e estou na dúvida se a Clara Marinho vai aceitar. Não Hoje, temos duas pessoas que vamos anunciar. Eu tenho dito que um dos cinco pontos que coloquei para o presidente Lula foi um ministério mais paritário de mulheres e negros e pessoas com deficiência. É uma coisa que vou cumprir.