China: uma visita em três tempos

Estou a caminho da China, a convite do presidente Xi Jinping. Uma vez mais, colocarei a diplomacia presidencial a serviço de uma política externa universalista, voltada para o desenvolvimento do Brasil e das reais prioridades de nosso povo.
Será uma visita em três tempos – consagrados às relações bilaterais, à atração de comércio e investimentos e à reunião de Cúpula do Brics.
No primeiro deles, em Pequim, realizarei visita de Estado dedicada a estreitar os laços entre o Brasil e a China. Por alguns anos, ainda vice-presidente, tive o privilégio de copresidir a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação, a Cosban. Essa experiência deixou-me esta profunda convicção: a parceria entre o Brasil e a China é verdadeiramente estratégica – e não apenas para os dois países, mas também para o mundo.
É estratégica para os dois países porque Brasil e China têm muitos interesses complementares e muitas posições comuns. A nossa é relação de benefícios mútuos, de uma virtuosa reciprocidade. O Brasil é fornecedor confiável e seguro de alimentos e insumos de grande relevância para o desenvolvimento chinês. É, também, opção confiável e segura para tantas empresas chinesas que buscam destino para seus investimentos.
Nos encontros com as autoridades chinesas, entre as quais o presidente Xi Jinping e o primeiro-ministro Li Keqiang, aprofundaremos ainda mais esse relacionamento econômico-comercial e exploraremos novos meios para aproximar nossas sociedades. Afinal, é preciso que mais brasileiros conheçam a China, que mais chineses conheçam o Brasil. Procuraremos formas de facilitar vistos, de aprofundar a cooperação cultural, de incentivar o turismo.
E a parceria sino-brasileira é estratégica, também, para o mundo. Em cenário internacional marcado por incertezas, o Brasil e a China têm atuado em defesa do livre comércio, têm sido vozes firmes contra medidas protecionistas. Recordo as palavras do presidente Xi, que, no Fórum Mundial de Davos, afirmou que “perseguir o protecionismo é como trancar-se numa sala escura: o vento e a chuva podem até ficar do lado de fora, mas também bloqueiam-se a luz e o ar”.
Do mesmo modo, defendemos, ambos os países, em diferentes temas de alcance global, a via do multilateralismo. É firme nosso compromisso com o Acordo de Paris sobre a mudança do clima, com o respeito às regras da Organização Mundial do Comércio. Essas coincidências demonstram que somos mais do que dois grandes países unidos por interesses compartilhados: são várias as frentes em que atuamos como forças em favor da estabilidade do sistema multilateral. Forças que são ainda mais significativas em contexto de tendências isolacionistas e fragmentadoras.
Um segundo tempo da viagem à China será a interação com lideranças empresariais, que fazem ou querem fazer negócios com o Brasil. Terei duas grandes oportunidades para isso: em Pequim, em seminário organizado pelo governo brasileiro; e em Xiamen, no Fórum Empresarial do Brics.
Em Pequim, estaremos com empresários chineses. A China é, desde 2009, nosso maior parceiro comercial. Entre 2006 e 2016, a corrente de comércio nada menos que triplicou – de US$ 16 bilhões para mais de US$ 58 bilhões. No primeiro semestre de 2017 a China foi o principal destino de nossas exportações – correspondeu a quase um quarto do valor exportado pelo Brasil. Além disso, empresas chinesas têm feito investimentos expressivos em nosso país, em setores como infraestrutura, energia, mineração, eletrônicos, telecomunicações, automóveis, máquinas de construção.
Ainda maior que a dimensão atual de nosso relacionamento econômico é seu potencial. No seminário em Pequim, apresentaremos o novo Brasil que se descortina com as reformas que temos levado adiante, com a recuperação de nossa economia. Dotadas de marcos regulatórios racionais e previsíveis, as parcerias para investimentos lançadas por nosso governo oferecem múltiplas oportunidades – portos, aeroportos, rodovias, linhas de transmissão, entre outros setores. São projetos fundamentais para nossa competitividade, que geram empregos e renda, que garantem melhores serviços à população. Queremos que empresas chinesas, com sua reconhecida excelência nessas áreas, sejam partícipes do momento modernizador que vive o Brasil.
Em Xiamen, manterei contatos com investidores não apenas chineses, mas também de outras grandes economias, que têm demonstrado renovado interesse pelo Brasil. Será mais um momento para expor as possibilidades que se abrem com a retomada de nosso crescimento.
Finalmente, o terceiro tempo. Participarei, ainda em Xiamen, da IX Cúpula do Brics, quando me reunirei com os líderes de Rússia, Índia, China e África do Sul. Estenderemos nosso diálogo, ainda, a mandatários de países convidados – Egito, Guiné, México, Tajiquistão e Tailândia.
Na cúpula, assinaremos acordo para aproximar nossos setores produtivos ao Novo Banco de Desenvolvimento – instituição criada pelos Brics que já aprovou 11 projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável em diferentes países, inclusive no Brasil. Avançaremos, ainda, em iniciativas concretas propostas pelo Brasil em áreas como saúde pública, aviação regional e cooperação em inteligência.
Em setembro de 2016, era a China o destino de minha primeira viagem como presidente. Naquela ocasião, falamos a nossos interlocutores dos planos que tínhamos para superar a crise que herdáramos. Passado um ano, os resultados estão aí: a inflação está novamente sob controle, os juros estão em queda consistente, a economia recuperou sua credibilidade, as oportunidades de negócios se multiplicam, os empregos começam a voltar.
O Brasil que vai agora à China é um país mais confiante. Um país que já avançou muito e que tem rumo certo para seguir avançando ainda mais.
Artigo publicado no dia 30 de agosto de 2017, pelo jornal O Estado de São Paulo.

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